A cena é quase um clássico catarinense: durante uma arrumação de rotina, ao abrir uma gaveta esquecida ou uma velha pasta de documentos de um parente, você se depara com um certificado de ações. O papel, amarelado pelo tempo, exibe com orgulho o nome do Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) ou de sua subsidiária, a BESCRI. A primeira reação é uma mistura de nostalgia e curiosidade, seguida quase imediatamente por uma pergunta pragmática: “Isso ainda vale alguma coisa?”.
A resposta curta é: sim, e provavelmente muito mais do que você imagina. Contudo, o caminho entre encontrar esse papel e transformar seu potencial em dinheiro real é repleto de armadilhas. Muitos herdeiros e proprietários, por desinformação ou pressa, cometem erros cruciais que resultam na perda de um patrimônio significativo.
Em 2025, com o mercado para esses títulos mais aquecido do que nunca, conhecer esses equívocos não é apenas útil, é fundamental. Este artigo é o seu guia definitivo para evitar os 5 erros mais comuns que podem fazer você, literalmente, jogar dinheiro fora. Se você tem ações do BESC em mãos, leia com atenção antes de tomar qualquer atitude.
Erro 1: Achar que não valem nada e jogar o papel fora
Este é, de longe, o erro mais trágico e, infelizmente, comum. Ao ver o nome de um banco que “não existe mais”, a conclusão lógica para muitos é que o papel se tornou obsoleto, um mero item de colecionador. Essa suposição não poderia estar mais longe da verdade.
A Realidade Jurídica: Quando o Banco do Brasil (BB) incorporou o BESC em 30 de setembro de 2008, ocorreu um fenômeno jurídico chamado sucessão universal. Isso significa que o BB assumiu todos os ativos e, mais importante para você, todos os passivos e obrigações do banco catarinense. As ações representam uma fração do capital de uma empresa, uma dívida que a companhia tem com seus acionistas. Essa dívida não desapareceu; ela apenas mudou de devedor.
Hoje, cada ação do BESC é um crédito válido contra o Banco do Brasil, uma das instituições financeiras mais sólidas da América Latina. O papel físico que você tem em mãos é a prova material desse crédito. Jogá-lo fora é o equivalente a rasgar uma nota promissória ou um cheque assinado e garantido. O valor não está no papel em si, mas no direito que ele representa. Antes de sequer pensar em descartá-lo, entenda que você pode estar segurando um ativo financeiro com liquidez e valor real de mercado.
Erro 2: Tentar resolver sozinho na agência do Banco do Brasil
Após uma pesquisa rápida na internet, você descobre que as ações têm valor e que o Banco do Brasil é o sucessor. O próximo passo instintivo para muitas pessoas é ir até a agência bancária mais próxima, apresentar os papéis ao gerente e esperar sair de lá com o dinheiro. Infelizmente, essa abordagem quase sempre resulta em frustração.
Por que não funciona? O gerente de uma agência de varejo do Banco do Brasil é treinado para lidar com produtos e serviços do dia a dia: contas correntes, poupanças, financiamentos, cartões de crédito. O processo de conversão ou pagamento de ações remanescentes de uma incorporação ocorrida há quase duas décadas é um procedimento corporativo complexo, que foge completamente da alçada da rede de agências.
Na maioria das vezes, o funcionário não saberá do que se trata, fornecerá uma informação desencontrada ou, na melhor das hipóteses, irá orientá-lo a procurar os canais de atendimento a acionistas do banco, o que pode levar a um labirinto de burocracia sem uma solução clara. Não existe um procedimento administrativo simples e direto para “descontar” essas ações no balcão do banco. A resolução desse tipo de pendência acontece em outra esfera, envolvendo o departamento jurídico e de relações com investidores do banco, e, na maioria dos casos, o mercado especializado que se formou para negociar esses títulos. Perder tempo em agências é um desvio que apenas adia a solução correta.
Erro 3: Vender para o primeiro que aparecer, sem uma avaliação técnica
Ao comentar com amigos ou em redes sociais sobre sua descoberta, pode ser que surja uma “oportunidade imperdível”: alguém se oferece para comprar suas ações imediatamente por um valor fixo, como R$ 5.000 ou R$ 10.000. A oferta pode parecer tentadora pela rapidez e pela ausência de burocracia. Ceder a essa tentação é, muito provavelmente, o caminho mais curto para um mau negócio.
O segredo está no Laudo de Avaliação: O valor de um lote de ações do BESC não é arbitrário. Ele é determinado por um cálculo técnico detalhado, formalizado em um Laudo de Avaliação Financeira Pericial. Este documento, elaborado por um contador ou economista, é o que estabelece o valor real de mercado do seu ativo. Ele considera:
- O Fator de Conversão: Quantas ações do Banco do Brasil (BBAS3) suas ações do BESC dariam direito na época da incorporação.
- Dividendos e Juros Acumulados: A soma de todos os proventos que essas ações do BB teriam pago desde 2008. Esta é uma parte substancial do valor total.
- Correção Monetária: A aplicação de um índice de inflação (como o IPCA) para trazer todo esse valor acumulado para o dinheiro de hoje.
Um lote que você vende por impulso por R$ 10.000 pode ter um valor técnico no laudo de R$ 50.000, R$ 80.000 ou até mais. Vender sem esse laudo é como vender um imóvel sem saber sua metragem ou localização, baseando-se apenas no “achismo”. O comprador que faz a oferta “no escuro” sabe do potencial e está apostando na sua desinformação para obter um lucro exorbitante.
Erro 4: Ignorar a importância de um Contrato de Cessão de Direitos
Digamos que você negociou um valor que considera justo. O comprador então lhe entrega o dinheiro e pede que você simplesmente assine um recibo ou o verso das ações (o chamado “endosso”). Embora pareça simples, essa informalidade é extremamente perigosa para você, o vendedor.
A sua segurança jurídica: A forma correta e segura de transferir a titularidade desses papéis é através de um Contrato de Cessão de Direitos Creditórios. Este é um documento jurídico detalhado que estabelece claramente:
- As partes envolvidas (cedente/vendedor e cessionário/comprador).
- A descrição exata das ações que estão sendo negociadas.
- O preço acordado e a forma de pagamento.
- A quitação plena, onde você declara ter recebido o valor e não ter mais nada a reclamar sobre aquelas ações.
- A transferência total de direitos e obrigações para o comprador.
Sem este contrato, você fica vulnerável. O comprador poderia, por exemplo, usar as ações e, se houver algum problema futuro, alegar que a negociação não foi concluída ou que existem outros valores a serem pagos. O contrato é a sua prova legal de que a transação foi feita de forma correta e finalizada, protegendo seu patrimônio e evitando dores de cabeça futuras. Uma assessoria séria jamais fará uma transação sem este instrumento legal.
Erro 5: Deixar para depois, achando que o valor não muda
“Encontrei as ações, sei que valem dinheiro, mas agora estou ocupado. No ano que vem eu vejo isso.” Essa procrastinação é um erro financeiro sutil, mas corrosivo.
O Custo de Oportunidade e a Inflação: Embora o laudo de avaliação inclua a correção monetária, o que protege o valor da inflação passada, deixar o dinheiro “parado” na forma de ações é perder o custo de oportunidade. O valor que você receberia hoje poderia ser investido, usado para quitar uma dívida com juros altos, iniciar um pequeno negócio ou realizar um sonho. Cada dia que o ativo fica na gaveta é um dia a menos de rendimento ou de aproveitamento desse capital.
Além disso, o mercado para esses papéis, embora aquecido, é um mercado de nicho. A demanda existe hoje porque o cenário jurídico e econômico é favorável. Não há garantia de que as condições serão as mesmas daqui a cinco ou dez anos. A oportunidade de realizar um bom negócio é agora. Deixar para depois é apostar contra o tempo e contra as suas próprias finanças.
Conclusão: O Conhecimento é o seu Maior Ativo
Encontrar um lote de ações do BESC é como descobrir um mapa do tesouro. Mas, como em qualquer caça ao tesouro, é preciso saber ler o mapa e evitar as armadilhas para chegar ao prêmio. Ao evitar esses cinco erros, você deixa de ser uma vítima em potencial do desconhecimento e se torna um agente ativo na gestão do seu próprio patrimônio.
Não jogue sua história fora, não se frustre em canais inadequados, não aceite a primeira oferta, não abra mão da sua segurança jurídica e não deixe que o tempo corroa uma oportunidade valiosa. O caminho mais seguro e lucrativo é buscar uma assessoria especializada, que possa providenciar a avaliação correta e conduzir a negociação de forma transparente e profissional. Faça isso, e você descobrirá que aquele papel amarelado é muito mais do que uma lembrança: é um passaporte para uma grata surpresa financeira.